segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Nelson Rodrigues

Texto: Gustavo do Carmo

Nelson Falcão Rodrigues nasceu em Recife, no dia 23 de agosto de 1912. Seu pai, o jornalista e deputado-federal Mário Rodrigues veio para para o Rio de Janeiro, perseguido politicamente. Trouxe a famíiia, incluindo Nelson, aos quatro anos de idade. Na escola, o menino Nelson mostrou o estilo polêmico que marcaria sua carreira ao escrever uma redação sobre adultério. Foi premiado, mas sua professora inventou um empate no concurso para não ler sua redação despudorada em público.

Nos anos 20, seu pai fundou o jornal A Manhã e Nelson Rodrigues começaria a trabalhar como repórter policial apenas com 13 anos. Os crimes passionais o inspiraram em suas futuras crônicas trágicas. Em 1928, Seu Mário perdeu o controle acionário do A Manhã e abriu outro periódico: o A Crítica.

No ano seguinte, o jornal publicou uma reportagem sobre a separação de um casal figurão da sociedade. A mulher envolvida, utrajada pela exposição do seu nome, Sylvia Serafim, invadiu a redação do jornal com uma arma comprada naquele mesmo dia, querendo matar o repórter Orestes Barbosa. Mas acertou o cartunista Roberto Rodrigues, irmão de Nelson, que morreu dias depois. Nelson testemunhou o crime. A assassina foi absolvida com apoio dos sufragistas da Revolução de 30, que acabaram fechando A Crítica após a morte de Seu Mário, deprimido, meses depois da morte do filho.

A família de Nelson Rodrigues viveu uma breve fase de pobreza até Mário Filho (jornalista esportivo que viria a dar o seu nome para designar oficialmente o Maracanã) ser contratado pelo jornal O Globo. Ele indicou o irmão, que trabalhou de graça por alguns meses. Pouco depois de ser efetivado contraiu uma tuberculose que afetou toda sua família e lhe deixou sequelas na visão. Nelson passou um longo período em um sanatório em Campos do Jordão. Tudo pago por Roberto Marinho.

Voltou para O Globo na editoria de cultura e comentarista de ópera, o que lhe abriu portas para realizar um sonho: escrever e produzir uma peça de teatro. Produziu A Mulher sem Pecado (1941), que não fez muito sucesso. Mas foi Vestido de Noiva, dirigido por Ziembinski, que o consagrou como dramaturgo ao ser sucesso de público e crítica no Teatro Municipal do Rio de Janeiro e tornar-se marco inicial do teatro moderno brasileiro. Isso foi em 1943.

Na época já estava casado com Elza Bretanha, com quem teve os filhos Joffre Rodrigues e Nelson Rodrigues Filho. Joffre faleceu há cerca de duas semanas.

Outras peças de Nelson Rodrigues foram Álbum de Família, Anjo Negro, Senhora dos Afogados, Doroteia, Valsa nº 6, A Falecida, Perdoa-me por me traíres, Viúva, porém honesta, Os Sete Gatinhos, Boca de Ouro, O Beijo no Asfalto, Bonitinha, mas ordinária, Toda Nudez Será Castigada, Anti-Nelson Rodrigues e A Serpente.

Nelson Rodrigues escreveu também para o O Jornal, Última Hora, Jornal dos Sports e Manchete Sportiva. No primeiro, onde recebia sete vezes mais do que no O Globo, publicou em 1945 o folhetim Meu Destino é Pecar, com o heterônimo de Suzana Flag. Os 38 capítulos elevaram a tiragem para quase trinta mil exemplares.

Com o sucesso escreveu outro: Escravas do Amor. E depois uma "auto-biografia" da "autora": Minha Vida. E ainda Núpcias de Fogo. Para um semanário do grupo, o Flan, publicou A Mentira (1953). Chegou a adotar outro heterônimo: Myrna. No Última Hora (1951) escreveu a série de crônicas A Vida Como Ela É..., na qual denunciava a sordidez da sociedade, como ele dizia. E no Jornal dos Sports e Manchete Sportiva produzia crônicas sobre futebol, onde falava do Fluminense, seu clube de coração desde a infância. Para o jornal Correio da Manhã também escreveu crônicas. Foi o mesmo onde o seu pai trabalhou quando chegou ao Rio de Janeiro.

Nelson escreveu também o romance Asfalto Selvagem, que reunia os folhetins Engraçadinha - seus amores e seus pecados dos doze aos dezoito e Engraçadinha - depois dos 30. Foi debatedor esportivo e entrevistador na TV Globo.

As histórias de Nelson Rodrigues vinham não só da vida dos vizinhos. A sua própria servia de inspiração. Além da tragédia da morte do irmão e da tuberculose, a tal redação que chocou a professora quando ele tinha sete anos contava a história de um homem que flagrava a esposa nua com o amante no quarto, esfaqueava a mulher e ajoelhava pedindo perdão. Aos quatro anos foi flagrado em cima de uma vizinha de apenas 3 anos. Testemunhou várias brigas por ciúme dos pais. Teve três filhos com Yolanda, secretária da Rádio Mayrink Veiga, mesmo ainda casado com Elza. Com a segunda mulher, Lúcia, teve uma filha, Daniela, que nasceu com paralisia cerebral.

Após padecer durante mais de cinco anos de problemas cardíacos, Nelson Rodrigues morreu numa manhã de domingo do dia 21 de dezembro de 1980. À tarde, ele acertou os treze jogos da loteria esportiva.
Mais informações em www.releituras.com/nelsonr_bio.asp

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